“A disputa pela memória deve ser eterna’’, afirma Ana Bursztyn-Miranda em coletiva na UFRJ

Gustavo Martins
2 min readMar 30, 2021

Em conversa com alunos, a ex-presa política, falou sobre memória, resistência e a ex-presidente Dilma Rousseff

por: Gustavo Martins e Mariana Castro

“Aqui não se faz regime de transição. Aqui se abafa tudo. Aqui se faz eufemismo.”, declarou Ana Bursztyn-Miranda, professora e ex-presa política, em coletiva realizada na Escola de Comunicação da UFRJ, em 2019. Ana e os alunos trataram de assuntos tão polêmicos quanto atuais: os problemas do cenário política brasileiro, suas vivências durante a ditadura militar, além de suas expectativas para o futuro.

Em meio aos protestos que haviam ocorrido no Chile, e com a ameaça de Eduardo Bolsonaro de um retorno da ditadura em caso de protestos semelhantes no Brasil, Miranda acredita que vivemos uma política de confronto e que isto é uma forma de justificativa preventiva. “Nós vivemos num tempo em que o presidente só governa para uma parte da população”, disse quando perguntada a respeito de pessoas que pedem a volta do regime de recessão. “As pessoas vão junto, porque aprenderam a ser superficiais. Repassam, repassam e vira verdade”.

“Até 2011, a ditadura era vista como Revolução de 64 nos quartéis”, afirmou a professora a respeito da memória que se tem sobre os tempos do governo militar. Bursztyn-Miranda contou que muitos arquivos continuam perdidos ou escondidos, mesmo que a ex-presidente Dilma Rousseff, quando ministra da Casa Civil, tenha tentado acessá-los. Segundo a militante, ‘’a Comissão da Anistia e outros órgãos governamentais nunca tomaram medidas muito eficientes na transição para a democracia’’. Para ela, ‘’a disputa pela memória é eterna’’.

Lançado em setembro de 2019, ‘’Torre das Donzelas’’ contou com depoimentos de diversas presas políticas, incluindo a própria Ana Bursztyn-Miranda. De acordo com a professora, apesar dos momentos terríveis, havia um sentimento de solidariedade e orgulho entre as detentas, pois encaravam como uma etapa da luta contra a repressão. “A ditadura não venceu”, disse ela, citando Dulce Maia, também ex-presa política, que participou do filme.

‘’Uma parte das minhas ideias chegou ao poder. Senti muito orgulho’’, respondeu quando questionada sobre o que sentiu em relação a eleição de Dilma. Mesmo que tivesse críticas em relação a ideias políticas da ex-presidente, sentiu orgulho de vê-la chegar ao poder. Bursztyn contou que não era muito próxima a ela e que só foram se encontrar novamente durante as campanhas de 2014.

“Não é possível ser verdadeiramente feliz olhando o que vemos na rua. Todo mundo viveria melhor se não houvesse desigualdade social. Talvez minha geração não veja, mas vocês são o futuro. Vocês vão modificar coisas”, concluiu a militante.

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Gustavo Martins

Estudante de jornalismo em busca de experiências na área de Comunicação.